Os futuros professores vão passar mais tempo em sala de aula, como alunos, antes de começarem a atuar em definitivo na própria sala de aula.
Na tentativa de melhorar a formação desses profissionais, o Ministério da Educação ampliou de três para quatro anos o tempo mínimo de formação exigido em todos os cursos de licenciatura do país.
Ou seja: das atuais 2.800 horas, os cursos passam a ter, obrigatoriamente, no mínimo 3.200 horas, com mais atividades práticas.
As medidas fazem parte das novas diretrizes para a formação de professores, elaboradas pelo CNE (Conselho Nacional de Educação) e aprovadas pelo governo neste mês. As instituições terão dois anos para se adequar.
Segundo o conselheiro José Fernandes de Lima, a ideia é reforçar a didática, além do conteúdo, e aproximar os futuros professores da realidade da sala de aula.
“Antes, os cursos ficavam mais preocupados em ensinar a matemática, por exemplo. Agora, queremos que tenha matemática, mas que possam ensinar também o que é escola”, afirma. “Corríamos o risco de formar um professor que praticamente não tinha experiência.”
O documento aprovado pelo governo também prevê mudanças para os professores que querem fazer uma segunda licenciatura -como um docente de geografia que queira ensinar ciências sociais, por exemplo.
Nesses casos, a carga horária mínima varia entre 800 e 1.200 horas. A parcela desse total em estágios passa de 200 para 300 horas.
Atualmente, dos 2,2 milhões de professores da educação básica, 76% têm formação superior.
Destes, 89% fizeram cursos de licenciatura. Os dados são do censo da educação básica de 2014.
A licenciatura é exigida por lei para professores que dão aula a partir do 5º ano (antiga 4ª série). Para as etapas de ensino anteriores, é admitida formação em nível médio.
RESSALVAS
Associações de professores e faculdades elogiaram o aumento no tempo de formação, mas também fazem ressalvas à proposta.
Para Andrea Caldas, presidente do Forumdir (fórum de diretores de faculdades e centros de educação das universidades públicas), a medida é um avanço, mas demanda a contratação de mais professores para os cursos superiores de licenciatura.
“Em situação de restrição orçamentária, vamos ter que ter mais concursos, senão haverá sobrecarga”, afirma.
Outra preocupação é que o aumento da carga horária eleve a desistência dos alunos desses cursos.
Maria Izabel Noronha, da Apeoesp (sindicato de professores de São Paulo), diz que a medida pode melhorar a qualidade do ensino “em um momento em que cursos de licenciatura são aligeirados para ganhar mais dinheiro”.
Faltou consenso, no entanto, sobre alguns itens da norma. Para a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), a formação de professores deveria ocorrer “exclusivamente” de forma presencial e não à distância -modalidade adotada por muitas universidades nos últimos anos.
O documento dá preferência para o formato tradicional, mas não restringe a modalidade à distância.
Originalmente publicado na Folha de São Paulo em 19/07/2015