As crianças que ingressarem no ensino fundamental da Finlândia em setembro, quando começa o ano letivo no país, serão as últimas a terem aulas de caligrafia. Para os educadores, a medida valoriza a criatividade e habilidades mais úteis para o futuro, como a digitação.

As lições de caligrafia no país nórdico, que tem 484 mil alunos, atualmente são introduzidas no primeiro ano e reforçadas nos anos seguintes.

Hanna Sarakorpi, diretora da Escola Saunalahti, na região da capital Helsinque, diz que o ensino da letra de mão demanda muito tempo e causa frustração nos alunos.

“Queremos incentivar a escrita criativa, e que a criança não se preocupe tanto com a técnica, mas com o conteúdo”, afirma, Tuomas Hyväri, professor da escola Ylikylän Yhtenäiskoulu, na cidade de Kempele, levanta outro aspecto: em algumas situações, o professor não entende o que o aluno escreveu, o que prejudica o aprendizado e a avaliação.

Hyväri conta que é comum alunos da quinta série que já escrevam só com letra de forma, porque se sentem mais confortáveis assim. “Por isso, não faz sentido ser obrigatório ensinar caligrafia aos estudantes mais novos”, disse.

OLHAR BRASILEIRO
A educadora brasileira Evelyse Eerola, que vive na Finlândia há nove anos e trabalha com educação infantil, vê a mudança como um reflexo cultural. “É um povo muito prático. Se você não usa, por que ensinar?”.

E completa: “É diferente do Brasil, onde tudo se avalia pela aparência. Aqui o professor nunca vai se preocupar com letras bonitinhas”.

Os filhos de Evelyse, hoje adultos, foram alfabetizados na Finlândia e tiveram aulas de caligrafia, mas nunca foram obrigados a escrever dessa maneira. “Era um treino, não uma obrigação”.

A caligrafia será substituída por aulas de computação a partir de setembro de 2016. Desse modo, as crianças vão se familiarizar mais cedo com equipamentos eletrônicos.

A ideia é que, com o tempo, os alunos aprendam a usar os dez dedos para digitar, como explica a chefe de desenvolvimento curricular do Ministério da Educação, Irmeli Halinen.

Para se adequar à nova medida, todas as prefeituras vão ter que garantir que haja pelo menos um computador ou tablet para cada dois alunos. A maioria das escolas já tem, segundo Irmeli.

A letra de forma vai continuar nas escolas. E os professores que quiserem e tiverem tempo vão poder ensinar a letra de mão.
Irmeli garante que foram analisados muitos estudos sobre a relação entre escrita e desenvolvimento da criança. A conclusão na Finlândia foi que é importante escrever à mão, mas não necessariamente com letra cursiva.

Com 484 mil alunos, a Finlândia ficou em 12º lugar na mais recente edição do Pisa, avaliação internacional de educação aplicada em 65 países. Com 50 milhões de estudantes, o Brasil ficou em 58º.